Paulo Rossi
“Vamos agitar a universidade!”. Uma conversa entre professores da UFRJ durante o cafezinho de intervalo da Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC), em 2024, demonstra o impacto, no meio acadêmico, do novo mundo aberto pela Inteligência Artificial. Edmundo Albuquerque de Souza e Silva, professor titular do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Coppe/UFRJ, é um dos mais motivados.
Ele coordena, desde junho do ano passado, os trabalhos da Comissão de Assessoria de Inteligência Artificial (CRIA/UFRJ), órgão consultivo da Reitoria: “São recomendações, não regras. A IA pode puxar a cooperação e a integração entre várias áreas da academia, com um centro multidisciplinar, projetos integrados, discussão do uso da ferramenta em sala de aula e capacitação contínua para professores e alunos”.
Edmundo vislumbra a disseminação de uma rede brasileira de Inteligência Artificial Generativa: “Podemos fazer um movimento coordenado, sem panelinhas, com curadoria de pesquisadores, literacia, workshops e cursos de extensão”.
A largada foi dada. O documento da ABC “Recomendações para o Avanço da Inteligência Artificial no Brasil”, organizado pelo professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Virgílio Almeida, traça diretrizes para temas como legislação, ética e trabalho interdisciplinar.
Já o projeto internacional Nanda (Networked Agents And Decentralized AI – Rede Mundial de Agentes e IA Descentralizada), liderado pelo MIT Media Lab (EUA), busca um protocolo aberto para uma rede planetária de agentes de Inteligência Artificial. A UFRJ é uma das instituições participantes, e os alunos do professor Edmundo trabalham atualmente num projeto de expansão do Nanda.
Lição do passado
A questão ética sobre a utilização da inteligência artificial na produção de conteúdo, tema caro à CRIA na UFRJ, foi debatida no Rio Inovation Week (RIW) deste ano. Uma mesa com a presença de Paula Chimenti (Coppead/UFRJ), Renato Cerqueira (PUC-RJ), Ricardo Limongi e Celso Camilo (ambos da Universidade Federal de Goiás) tocou num aspecto crucial: a criatividade na pesquisa científica.
“Com a Inteligência Artificial, cresceu imensamente o número de pesquisas publicadas, mas isso não refletiu no aumento de conhecimento disseminado para a sociedade”, provocou Camilo, um dos responsáveis pela Gaia, IA com código aberto desenvolvido pela UFG.
A discussão permeou os direitos autorais e a originalidade das pesquisas. “Já aconteceu no Wikipedia e no Google: usar as ferramentas para produzir conteúdo sem metodologia científica ou até mesmo copiar. E está acontecendo com a IA generativa, por parte inclusive de pesquisadores”, lamentou Camilo.
Missão do presente
Desde julho, o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da UFRJ (Coppe) está presente no Porto Maravalley, projeto da prefeitura do Rio nos setores de IA, tecnologia e inovação. O laboratório Casulo, coordenado pela professora Amanda Xavier, reúne 20 alunos em cursos de extensão e 15 pesquisadores de mestrado e doutorado.
“Usamos IA no desenvolvimento de peças de jogos, de forma geral, na modelagem 3D usando o programa /studio.tripo3d.ai/”, revela Amanda. “Trabalhamos com protótipos feitos em impressoras 3D, como peças para drones usados para borrifar pesticidas e na prevenção de incêndios florestais”, completa a pesquisadora.
“Temos um ambiente colaborativo. Somos um hub de inovação. A ideia é criar, ‘prototipar’ e disseminar aprendizado, em direção a uma economia integrada”, descreve a pesquisadora da UFRJ.
Visão do futuro
A utilização e o desenvolvimento de inteligência artificial viraram diferenciais na seleção de projetos de pesquisa de jovens doutores na UFRJ. O processo, concebido em consonância com o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), teve prazo encerrado no fim de outubro.
O edital da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PR2) e do Conselho de Ensino para Graduados (CEPG), no valor de R$ 1,4 milhão – 35 auxílios de até R$ 40 mil –, conferiu pontuação adicional a propostas que apresentassem conteúdo com inovação em IA.
Ao mesmo tempo, cerca de 300 projetos da UFRJ foram contemplados em dois programas de fomento promovidos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj): Cientista do Nosso Estado (CNE) e Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE).