Paulo Rossi
Três semanas antes, Bruno Drummond estava numa sala de cirurgia, sem movimentos após um grave acidente de carro. Agora, na cama do hospital, mexia o dedão do pé. “Foi um movimento muito pequeno, muito suave. Os médicos e enfermeiros começaram a comemorar: ‘Nossa, mexeu o dedão do pé!’. E eu: ‘Ok, o dedão do pé, beleza, mas o resto tá tudo morto ainda. Não tô entendendo a comemoração…’”
A equipe de Tatiana Sampaio estava representada, naquele quarto hospitalar, por Karla Menezes. Ela acompanhava Bruno diariamente, exercendo um múltiplo papel: misto de ciência, afeto e fé na recuperação. “Ele estava superdeprimido, muito jovem… Fiquei tão emocionada de ver o dedo dele mexendo, e ele falava assim para mim: ‘Karla, isso não quer dizer nada. O que é que eu faço com um dedo, com um dedão do pé?’. Eu respondia: ‘Você não está entendendo. Isso é maravilhoso!’. Era impossível para ele entender a magnitude daquilo. Foi um momento indescritível.”
Bruno começou a ter um movimento progressivo. A mobilidade foi crescendo, de baixo para cima. “Mexia o pé, de lado, uma das pernas, a direita, com mobilidade bem melhor porque teve uma lesão lateral”, recorda Karla. Com dois meses de internação no Rio, a melhora do paciente permitiu a transferência para São Paulo. Ele já conseguia elevar o tronco, mas não conseguia ficar em pé.
“Três meses depois do início do tratamento no Rio, fui a São Paulo fazer uma avaliação clínica”, conta Karla. “Num dia de fisioterapia, ele deu os primeiros passos. E eu estava lá, novamente, assistindo! O pai falou uma coisa que nunca vou esquecer: ‘Meu filho, ver você andar pela primeira vez foi muito emocionante, mas essa, agora…’. É um sonho ver aquilo ali se realizando, o impacto numa família inteira, o alívio do pai, que estava dirigindo o carro no momento do acidente. É isso que tem que mostrar, dar luz à pesquisa, ajudar as pessoas.”
Importância da fisioterapia
Engatinhar antes de voltar a caminhar. Bruno destaca o trabalho de fisioterapia no centro de reabilitação da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), em São Paulo: “Foi o que virou a chave para andar. O fisioterapeuta me colocou para engatinhar. Tive que passar o mesmo processo de um bebê para reaprender a andar. Comecei a entender que eu tinha músculo que eu não sabia que eu tinha, o músculo do quadril, que dá o equilíbrio”.
Bancário, Bruno trabalha com estratégia de meios de pagamento do Itaú. Aos 31 anos, mora com a mãe e viaja de ônibus de São Paulo para o Rio a cada duas semanas para ver a namorada carioca, que mora na Ilha da Gigoia. “Comprei apartamento e vou morar sozinho agora no fim do ano. Cozinho, dirijo carro com câmbio manual, faço trilha. Fiz uma meses atrás na Chapada dos Veadeiros.”
Ficaram pequenas sequelas, como a limitação no movimento de pinça da mão e um pouco de incontinência urinária. Nada que deixe Bruno abalado: “Hoje sou 100% independente. Só não consigo mais jogar futebol como jogava antes. Não tem cadeira de rodas, andador, muleta, bengala…”
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