Rick Barros
Uma das principais atrações da Rio Innovation Week 2025, o robô humanoide 14-Bis é capaz de reproduzir gestos humanos com precisão, dialogar em tempo real e reconhecer expressões e movimentos, integrando sistemas de processamento de linguagem natural, visão computacional e aprendizado de máquina. Isso tudo numa estrutura leve de 9 quilos, com 20 possibilidades de movimento e autonomia operacional de até quatro horas. Um de seus destaques é o braço robótico dedicado à tradução, em tempo real, da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Concebido e construído integralmente por Joel Ramos, professor e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Informática da UFRJ, o projeto une engenharia robótica, inteligência artificial e tecnologias assistivas em uma plataforma de pesquisa modular voltada para o ensino e a acessibilidade. O 14-Bis nasceu da união entre as experiências de Ramos em sala de aula e na pesquisa. Segundo ele, a motivação foi clara: transformar a robótica em um recurso acessível e útil para a educação básica. “Percebi o quanto as tecnologias assistivas ainda eram inacessíveis ou mal integradas ao contexto educacional brasileiro. Quis desenvolver algo que não fosse apenas inovador tecnicamente, mas que pudesse ser usado no ensino e aproximasse os estudantes da realidade da ciência”, explica.
Em seis anos, o desenvolvimento do 14-Bis passou por cinco versões, todas financiadas com recursos próprios. A ausência de apoio externo exigiu soluções criativas e persistência. A experiência, segundo o pesquisador, trouxe aprendizados valiosos: “A personalidade do 14-Bis acaba sendo uma síntese digital da minha própria personalidade. Os códigos e estruturas foram sendo aprimorados ao longo dos anos, com base nos dados coletados”.

Instrumento de aprendizado
O robô já foi utilizado em oficinas com crianças de escolas públicas e particulares. Nessas atividades, serviu como mediador para o ensino de conceitos de robótica, programação e inteligência artificial. Para Ramos, o impacto está no despertar da curiosidade e do engajamento:
“Quando a tecnologia ganha forma humana e sensível, ela estimula a empatia como nenhum outro recurso pedagógico”.
Ramos também desenvolve no doutorado o Libras-Rá, braço robótico acoplado a um pedestal, capaz de reproduzir sinais em Libras. A proposta é utilizar visão computacional para captar os movimentos da pessoa e replicá-los de forma precisa, tornando a comunicação acessível em espaços educacionais e culturais. “O doutorado é 100% dedicado à inclusão digital e à tradução de Libras. Já o 14-Bis, é um robô humanoide de propósito geral, aplicado em sala de aula. Os dois projetos são complementares”, explica Ramos.
Homenagem a Santos Dumont
O nome do robô, homônimo do avião criado por Santos Dumont (1873–1932), é uma homenagem ao grande inventor brasileiro e, assim como a invenção de 1906, aponta para a inovação. “É uma mensagem de paz e esperança para humanos e máquinas. Ele representa a perseverança e o uso responsável da tecnologia para a evolução da humanidade”, resume Ramos.
Para o futuro, ele projeta novos experimentos com reconhecimento de voz e análise de imagens em nuvem, além da ampliação do uso do Libras em ambientes escolares e museológicos. Apesar dos avanços, o pesquisador ressalta que o Brasil ainda carece de políticas de incentivo à inovação tecnológica com foco social. “Faltam políticas de fomento específicas, visibilidade midiática para projetos sociais de base tecnológica e mais conexões entre academia, indústria e sociedade”, avalia.
Mais do que visibilidade, o cientista lembra que a produção científica exige recursos, instrumentos e financiamento constantes e está animado com o futuro: “Tudo o que quero é continuar produzindo ciência de qualidade e ser um pesquisador corajoso e destemido, assim como foi Santos Dumont”.